quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Mais um da Martha




A tristeza permitida

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões - se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar a tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer "te anima" e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente - as razões têm essa mania de serem discretas.
"Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago de razão/ eu ando tão down..." Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. "Não quero te ver triste assim", sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor - até que venha a próxima, normais que somos.

Martha Medeiros [Pág 21, Doidas e Santas]

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Mas apareceu você e eu vi tudo mudar...



"É bobagem
Mas eu choro
Só de pensar em te perder "

Ai ai , como boa pagodeira que sou, meus últimos hits tem sido "grupo nuwance" .. e como minha criativade nao é lá essas coisas, recentemente mandei um depoimento pra ele com uma musica deles. A música fala sobre como o cara está apaixonado e assume que é bestera os medos que se tem de não ser correspondido, mas que dóem e pairam sobre nossos pensamentos mesmo quando sabemos que são infundados.
Pois bem, eu não poderia estar me contradizendo de maneira mais óbvia aqui. Medo? Se eu tenho medo é de bater a porta no meu dedo. É de falhar com algum paciente. É de não ser uma boa mãe. De trovão. Daquele bicho que é ruim até fala o nome. Mas medo de perde-lo? Insegurança? Vixi.. NEm pensar! Por favor, não me entenda mal,não pare de ler agora, não pense que sou uma hipócrita egocêntrica, que faz drama e depois tem a cara de pau de banalizar as crizes. Muito pelo contrario. Eu não tenho esse medo porque eu tenho aquela certeza. Aquela.. a que a gente sempre quer ter e parece que nunca vai alcançar. Eu tenho certeza que eu já encontrei o pai dos meus filhos. O homem com quem eu vo me casar. Pra quem eu vou um dia fazer uma comidinha especial esperando ele chegar do trabalho. Com quem no outro dia eu vou brigar porque chegou muito tarde. O homem que vai me xingar porque eu defendo e chamo de amigo aquele filho da puta que numa das nossas brigas me disse que eu tinha que me dar valor. O homem pra quem eu vou dizer "eu não quero mais que tu dê nem oi pra quela vagabunda cínica", a mulher com quem ele trabalha. E é claro que vamos fazer de tudo pra fazer nosso parceiro feliz, mas naquele momento da briga vamos dizer "se tu fazes tanta questão.. ta bem, mas agora ala a boca e me deixa em paz que nãote aguento mais", então vamos nos virar e 5 minutos depois (talvez com o tempo isso aumente pra 10) estaremos lá pedindo desculpa e combinando como sair dessa, como nos livrar dessas pessoas chatas que nos incomodam pelo simples fato de incomodarem o nosso amor!

o que eu to querendo dizer, é que apertar o dedo na porta dói e pode até quebrar, daí não posso escrever direito, e pra minha vida poder escrever é crucial. Ver uma barata, viva ou morta, me faz tremer, suar frio, gritar e as vezes chorar, no mais crítico dos casos me faz paralizar, a ponto de ligar pra alguem (ele) vir me buscar em algum lugar. Falhar com um paciente além de acarretar consequencias pra vida dele me faz uma psicóloga muito aquém da minha meta. Trovão assusta e me tira o sono, o que me deixa um zumbi no outro dia. Então eu tenho medo mesmo. Como não? É aquilo que me traz algum empecilho pra fazer o que eu sempre faço. Mas perder o meu amor? Eu já tive medo, tive e muito. Eu nem sequer confiava nas pessoas. Mas depois de tudo que já vi na vida, e por tudo que já passei, se eu tenho medo é de tropeçar no vestido no dia do casamento. O resto é resto. A gente briga, eu tenho ciume (muitooo), eu reclamo demais, eu cobro coisas ridículas, mas eu sei que no fim do dia ele vai dormir me amando e vai se acordar me amando mais. Porque a gente é assim, vem de outras vidas, não há o que possa nos separar, a gente vai sempre se perdoar antes mesmo que o outro pense em errar, nem a morte pode nos atrapalhar.




Eu não acreditava em histórias de amor, mas como diz a música "apareceu você e eu vi tudo mudar".